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A primeira metade de 2020 tem sido uma experiência completamente fora do comum para qualquer investidor. A indústria de empréstimos P2P não escapou à regra e apesar de ser completamente impossível acompanhar todos os eventos, gostava de partilhar um resumo do que se tem passado nesta área de investimentos alternativos em tempos de COVID-19.

Fraudes e Fecho de Operações

Entre esquemas fraudulentos já confirmados e outros casos que ainda se encontram a ser investigados e para os quais a informação existente aponta para a existência de crimes financeiros, contam-se já 4 plataformas Europeias:

  • A Kuetzal impediu levantamentos e apagou o website a 12 de Janeiro. O anúncio de falência por acção judicial por parte de investidores ocorreu no passado dia 8 de Junho. Trata-se de um esquema fraudulento confirmado.
  • A Envestio deixou de processar pagamentos e apagou o website a 21 de Janeiro. O anúncio de falência por acção judicial por parte de investidores ocorreu no passado dia 3 de Junho. Trata-se de um esquema fraudulento confirmado.
  • A Monethera comunicou aos investidores a sua incapacidade para operar a 27 de Março. Investigações subsequentes por parte de investidores apontam para a existência de ligações entre pessoas e entidades desta empresa com a Envestio. Mais informação é requerida, mas tudo aponta para mais um esquema fraudulento.
  • A Grupeer também comunicou aos investidores a sua incapacidade para operar a 27 de Março. Desde esse momento foram confirmadas más práticas e actos de criminalidade financeira, mas a empresa continua a comunicação com investidores. Infelizmente, esta aparenta ser uma medida para evitar a restituição de fundos.

Outras plataformas, apesar de não estarem associadas a actividades fraudulentas, foram obrigadas a fechar operações, tendo procurado devolver os depósitos realizados pelos investidores e restituir os valores aplicados em empréstimos.

Plataformas em Dificuldades

Além dos casos apresentados acima, outras plataformas estão claramente a ter dificuldades em manter as suas operações. Algumas delas apresentam claros riscos para investidores que devem ser considerados antes de se investir:

  • A FastInvest iniciou um processo de aumento sistemático no valor da taxa de juro oferecido, e uma política de retenção de levantamentos que em alguns casos já atinge 3 meses. A empresa está claramente em dificuldades.
  • A Wisefund congelou pagamentos aos investidores até dia 31 de Julho. Não oferece actualizações sobre os projectos existentes, a comunicação e suporte ao cliente tem sido muito deficiente e alguns dos projectos quando avaliados de forma mais cuidada, mostram claras debilidades, tendo já dado origem ao interesse de alguns investidores em avançar com um processo judicial.
  • A TFGcrowd tem avançado com pagamentos aos investidores numa abordagem completamente ao acaso. Um investidor recebe uma quantia associada a um projecto específico quando outro investidor que também aplicou dinheiro no mesmo projecto não recebe nada. E alterou a tipologia de projectos financiados através da plataforma para empréstimos de curto prazo e pequeno volume. Mas o mais estranho é permitir que dinheiro que não foi pago por mutuários ser “investido” em outros projectos com uma data de maturidade mais alargada.

Outras plataformas foram claramente afectadas pelas condições adversas de mercado provocadas pelo COVID-19, estando a trabalhar com os investidores no sentido de estabilizar a situação. Nesta categoria encontram-se a maior parte das empresas de investimentos em empréstimos P2P Europeias, que num grau maior ou menor, viram os volumes de empréstimos financiados cair dramaticamente desde Março, colocando grande pressão sobre a sua estabilidade financeira.

Plataformas com Performance durante a Crise

Entre as plataformas P2P que mostraram uma resposta adequada ao período de crise encontram-se algumas que foram adquiridas, outras que levantaram fundos para se capitalizarem e outras ainda que tiraram partido da crise para reforçar a presença no mercado:

  • A Viventor foi adquirida por uma entidade que controla Originadores de Empréstimos o que estabiliza a situação financeira da empresa;
  • A EstateGuru, EvoEstate e a Crowdestor levantaram financiamento junto dos seus investidores para reforçar a sua situação financeira;
  • A PeerBerry ganhou quota de mercado e a Iban Wallet lançou novos produtos para os seus clientes pensando no contexto actual.

Claramente as plataformas P2P podem aprender imenso de forma a tirar partido destes períodos de crise e crescer a sua presença no mercado. Isso exige um compromisso de longo prazo para com os investidores e a necessidade de manter as promessas e as condições oferecidas durante a totalidade do período de investimento acordado. Mas como sempre, é crítico para todo os investidores recordar que… “Performance passada não garante resultados futuros!”

Notas Finais

O COVID-19 e o abalo financeiro que trouxe consigo veio expor as plataformas P2P fraudulentas e aquelas que têm capacidade financeira débil para fazer face a períodos económicos difíceis. Veio igualmente testar e mostrar a todos exemplos de boa gestão de risco e de serviço ao cliente por parte de um número pequeno de plataformas, deixando claro que esta classe de activos precisa de imenso trabalho para ser uma opção confiável, mas possui um imenso potencial para o futuro. Mas algo que espero que seja claro no final deste texto é que investir em empréstimos P2P não é para qualquer investidor.

Hoje, mais do que nunca, é essencial salientar não apenas os benefícios de investir em empréstimos P2P mas também os seus riscos. Os investidores devem dedicar o tempo necessário para perceber o que esta classe de activos é, como funciona e quais as limitações regulatórias e de proteção de investidores existentes.

O processo de democratização que tem permitido a qualquer investidor, em qualquer parte do mundo aplicar as suas poupanças através do seu computador exige literacia financeira e uma análise de risco adequada de forma a evitar surpresas e assegurar a tranquilidade que todos procuramos nos nossos investimentos.

Carlos Boto é investidor em empréstimos P2P, publicando regularmente sobre esta classe de activos no blog Savings4Freedom. É gestor de empresas e professor de gestão e empreendedorismo.

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