Há notícias que vão surgindo e que parece que já nem as ouvimos, pois são tão recorrentes que não lhes ligamos. Mas é preocupante não parar para pensar no que está a acontecer com a concessão de crédito em Portugal.
O Crédito Não É algo Mau à Partida!
Tendo como premissa que o crédito não tem de ser algo errado à partida, não posso deixar de refletir no significado dos dados divulgados pelo Banco de Portugal referentes à concessão de crédito (período de maio). O que mais chama a atenção não é apenas o aumento de crédito em geral, mas sim o facto de ser o crédito automóvel aquele que continua com crescimentos sucessivos.
Neste momento o crédito automóvel está com um aumento de 32% de valor financiado face ao período homólogo. Sabemos que o automóvel é um bem necessário para a esmagadora maioria dos portugueses, mas será que é sinónimo de ter de recorrer a crédito?
Será Que a Economia Está Mesmo Melhor?
Será que as facilidades de pagamento existentes não nos levam a optar por algo melhor do que necessitamos? Não falo de nenhum caso em particular, nem quero ser acusado de falar de alto a dizer que os portugueses vivem acima das suas possibilidades, apenas quero lançar a reflexão preventiva. Isto é, para quem sente que a economia está melhor e por isso equaciona mudar de carro, peço que não se esqueça do que vivemos nos últimos anos. Um crédito é sempre uma prisão.
Estamos a comprar dinheiro para antecipar uma necessidade presente. E o foco tem de estar mesmo na palavra “necessidade”. Não é por haver melhores condições que recorro a crédito. Devo fazê-lo se tiver uma necessidade que justifique ir “à compra de dinheiro”. A durabilidade do carro ou o prazer que tiramos dele, é independente da responsabilidade financeira.
Os Créditos São Prisões Que Duram Muito Tempo
Posso até já não ter o carro, mas o crédito terei sempre de o pagar. Temos assistido ao fenómeno de crescimento da confiança dos consumidores, mas que essa confiança não esteja assente no aumento do endividamento. O consumo é bom para a economia, mas quando é assente no excessivo recurso ao crédito, podemos apenas estar a empurrar com a barriga os problemas para a frente.
Nota: Artigo adaptado de crónica no Jornal Destak