Os dados conhecidos sobre o volume de pedidos de moratórias, da parte dos particulares, devem levar-nos a refletir sobre o que nos espera no médio prazo. Nem todas as moratórias são iguais, uma vez que existem as moratórias do Estado e as convencionais que podem ser diferentes de banco para banco.
De forma genérica um pedido de moratória implica que o devedor, durante o período em que vigorar a moratória, não pague a prestação por inteiro: ou não paga qualquer valor (ficando os juros a capitalizar durante esse período) ou paga apenas a parcela da prestação referente aos juros. Com a opção de carência de capital, que é uma ajuda no curto prazo, deve estar sempre presente que o montante em dívida não diminui, pelo que se nada alterar na nossa vida durante o período da moratória o problema financeiro não só não se resolveu como poderá ter agravado.
Para a saúde do setor bancário é muito importante que os bancos não aumentem os níveis de crédito malparado, que tem vindo a baixar desde 2014. Mas será que as moratórias vão ser a garantia que estes valores não aumentam? Não. Em alguns casos poderão ajudar os devedores a recompor a vida, mas em muitos casos as moratórias estão a criar uma ideia errada que nada mudou. Se alguém pediu moratória no seu crédito (e aqui preocupa-me mais o volume expressivo no crédito ao consumo, que percentualmente é muito maior que os pedidos de moratórias no crédito habitação) e está com o seu rendimento inalterado pode estar a viver um engano ao não pagar a prestação por inteiro.
Nestes períodos de maior incerteza costuma aumentar a capacidade de poupança dos portugueses (temos assistido a um grande aumento da subscrição de PPR, por exemplo). O que espero é que esta poupança venha a refletir-se numa capacidade de libertação das dívidas. Se o pedido de moratória não tiver consequências na nossa vida podemos não estar a beneficiar de coisa alguma e apenas vivermos na ilusão que desta pandemia pouca coisa afetou as nossas finanças.