Nos últimos meses temos assistido a um crescimento do peso dos depósitos à ordem no total de depósitos bancários. Por outras palavras, as famílias têm optado por ter o dinheiro parado à ordem ao invés de o ter aplicado em depósitos a prazo.
Quais os perigos de ter o dinheiro na conta à ordem?
É certo que este movimento se deve em grande parte à queda continuada das taxas de juro, que desincentivam e tornam pouco lógico subscrever depósitos a prazo (contrariamente, incentivando o crédito e impulsionando o mercado imobiliário). No entanto, é também sintoma de que teremos desistido de poupar dinheiro, esquecendo-nos que existem dois grandes perigos à espreita.
- Ter o dinheiro parado na conta à ordem é uma tentação demasiado grande de suplantar quando chega o momento de consumir. Conhecemos inúmeras famílias que têm as suas poupanças à ordem e que acabam por gastar o dinheiro, porque o têm facilmente disponível.
- Não aplicar as nossas poupanças é o mesmo que queimar o dinheiro, uma vez que a inflação vai-nos retirar poder de compra. Os mesmos €100 não valem o mesmo hoje ou dentro de um ano, simplesmente porque os preços sobem.
Será que a culpa é só dos bancos?
Muitos colocam o ónus da falta de poupança no setor financeiro, nas baixas taxas de juro e nos escândalos bancários que afetam a confiança no sistema. Contudo, é mais difícil assumirmos a nosso quota de responsabilidade em todo o processo. E temos uma responsabilidade ativa, quanto mais não seja na procura de alternativas de investimento, como sejam os seguros financeiros, os PPR ou os produtos de aforro do Estado. Não esqueçamos que é nos momentos de incerteza que a poupança mais falta faz. Já vimos como seria diferente se muitas famílias tivessem mais e melhores hábitos de poupança? Que o impacto desta nova crise seria inferior e que as situações de carência financeira seriam amortecidas?