A educação para as finanças pessoais deve começar em casa e desde pequenos. Ajudar os nossos filhos a perceberem que o dinheiro é um meio para alcançar objetivos dignos é essencial para uma saudável relação com o dinheiro desde o crescimento até à vida adulta.
Como educadores devemos envolver os filhos desde cedo nestas temáticas financeiras. Para isso é necessário saber como falar sobre dinheiro com eles. Creio que não há necessidade de andar a dizer aos filhos quanto é que ganhamos e muito menos andar a comparar o nosso rendimento com terceiros. Mas como educadores diria que temos a responsabilidade de ajudar os nossos filhos a compreenderem bem os seguintes princípios base na gestão financeira:
- Princípio da origem – esforço versus retorno;
- Princípio da escolha – uma ação é uma escolha;
- Princípio do horizonte – horizonte da gestão responsável dos recursos.
Princípio da Origem
A nossa capacidade de criar riqueza está, regra geral, corelacionada com o esforço para a obter. Não estou a dizer que quem emprega mais esforço tem mais riqueza (isso seria muito injusto e revelaria uma ignorância das regas do mercado), mas estou a dizer que devemos ajudar os nossos filhos a perceberem que a origem do que temos é fruto de um esforço. Aquilo que veem e usufruem, seja muito ou pouco, tem um grande valor porque é o resultado de um empenho que colocámos.
De forma a dar mais sentido ao meu dia-a-dia de trabalho, gosto sempre de ter presente o(s) benefício(s) que vou retirar daquele esforço. Se a mente se foca apenas no dinheiro que recebemos no fim do mês podemos perder o nosso propósito de vida. O foco está no bem-estar que retiro daquele digno esforço. As crianças conseguem perceber isto desde cedo.
Princípio da Escolha
Sobre o segundo princípio penso ser importante começar por distinguir uma re-ação de uma ação. Enquanto a primeira é mais do campo da emoção, do instinto, a segunda é mais do campo da razão, do discernimento. Deste modo, para ajudar os nossos filhos a terem as melhores ações com o dinheiro é preciso ajudá-los a compreenderem que dizer sim a alguma coisa é também dizer não a outras. O impulso que a publicidade gera nas crianças de quererem comprar tudo no imediato tem de ser mitigado com o uso da razão, que nós adultos estamos mais habilitados do que elas (espera-se que assim seja!). Temos de deixar claro que a escolha que é feita não é absoluta, na medida em que há sempre uma perda associada a essa escolha. Depois da escolha estar feita é crucial sermos consequentes com ela.
Princípio do Horizonte
Por fim, considero essencial trabalhar o princípio da responsabilidade na gestão dos recursos. Neste princípio introduzo a noção de que o dinheiro não é para gastar, mas é para gerir. E que gerir tem sempre de contar com diferentes horizontes de análise. Não falo apenas do meu horizonte de vida que me deveria levar a uma lógica de poupança para os períodos em que o esforço não seja suficiente para o retorno que gostaria. Falo também do horizonte do mundo que não se esgota em mim. Este aspeto é importante para não nos esquecermos que o planeta terra é habitado por muitos e que os recursos disponíveis devem perdurar para lá de mim.
Ser-se cuidadoso com os bens materiais, garantir que a utilização que lhes damos é bem aproveitada ou saber partilhar o que tenho com outros, são tudo aspetos que criam maior sustentabilidade económica. Não se consome tanto, mas garante-se o acesso a mais pessoas com menos recursos. Se quisermos ter uma visão de curto prazo este princípio prejudica a sociedade de consumo, mas se colocarmos as nossas ações numa visão de longo prazo estamos a criar mais riqueza para nós e para os que nos rodeiam.