A taxa EURIBOR é a taxa que serve de referência para os créditos em Portugal. A evolução da EURIBOR tem sido uma montanha-russa, o que tem tido impactos enormes nos orçamentos das famílias portuguesas. Neste artigo vamos falar da evolução das taxas de juro na Europa e da previsão da Euribor para os próximos tempos.

Porque é que a Euribor sobe e desce?

Para abordarmos a previsão da EURIBOR para os próximos tempos temos de explicar como são formadas as taxas de juro na Europa, mas de forma simples e sem grande economês, não se preocupe.

O processo de formação das taxas de juro na Europa começa com a definição da taxa de referência por parte do Banco Central Europeu (BCE). O BCE é a entidade responsável pelo controlo das expetativas de preços. O seu principal objetivo é o de manter a taxa de inflação muito próxima, mas abaixo de 2%:

• Quando as expetativas são que a taxa de inflação vá ficar acima de 2%, o BCE assume uma postura mais restritiva, e sinaliza aumentos de taxas de juro;
• Quando a expetativa é que a taxa de inflação caia abaixo de 2%, o BCE pode assumir uma postura menos restritiva, apontando para descidas de taxas de juro.

Para controlar a taxa de inflação, uma das grandes medidas de política monetária consiste no controlo das taxas de juro, através da subida ou descida das taxas de referência do Banco Central Europeu.

Qual a relação entre a taxa do BCE e a taxa EURIBOR

Quando os bancos têm excesso ou necessidades de liquidez, os bancos podem depositar ou pedir dinheiro emprestado ao BCE ou aos outros Bancos. Assim, o custo que o BCE cobra para os bancos se financiarem acaba por servir de referência a estes empréstimos, sendo o valor mínimo a que os bancos se financiam.

Os bancos podem ainda transacionar dinheiro entre si a prazos de 1 mês, 3 meses, 6 meses ou 12 meses. A média da taxa dos empréstimos a 3 meses é a EURIBOR a 3 meses. A média dos empréstimos a 6 meses e a 12 meses será a EURIBOR a 6 meses e a EURIBOR a 12 meses. A propósito, EURIBOR são as siglas de European InterBank Offer Rate, que em português corrente é taxa de empréstimo entre bancos na Zona Euro.

Podemos assim dizer que a taxa EURIBOR é derivada da taxa de referência do Banco Central. Está relacionada mas não é a mesma coisa. Isto porque quando se espera que o BCE vá baixar as taxas de juro, as taxas EURIBOR antecipam esse movimento, começando a baixar mais cedo. Por outro lado, quando se estima que o BCE vá subir taxas, os bancos antecipam o movimento e começam logo a emprestar dinheiro mais caro entre si.

Como é que a taxa de juro afeta a taxa de inflação

A inflação surge quando existe uma procura de bens e de serviços que é maior do que a oferta. Como sabemos, se a procura é maior, há mais espaço para subidas de preços. Assim, as taxas de juro impactam a taxa de inflação porque:

• Subidas de taxas de juro incentivam a poupança (que recebe juros maiores) e desincentivam o crédito (que fica mais caro). Retirando dinheiro da economia, a procura por bens e serviços reduz-se, e os preços caem;
• Descidas de taxas de juro desincentivam a poupança e incentivam o crédito (que fica mais barato). Colocando dinheiro na economia, a procura por bens e serviços aumenta, o que pode provocar subida de preços.

Porque é que tivemos um pico tão grande na inflação?

Os últimos anos foram marcados por algumas tensões que tiveram impactos grandes na economia, sendo as principais o excesso de endividamento dos Governos na Europa e a crise do Covid 19. Nesta altura, tivemos alguns movimentos que justificaram o descontrolo dos preços:

1. Os Bancos Centrais e os Governos inundaram as economias de liquidez para combater crises passadas e pelo receio de que os confinamentos tivessem impactos ao nível do emprego e do consumo que fizessem descarrilar a economia. Este facto justificou termos tido vários aos com taxas de juro negativas, algo que economicamente não faz qualquer sentido.
2. As famílias retraíram, de facto, o seu consumo e acumularam poupanças a níveis historicamente elevados;
3. As linhas de abastecimento foram cortadas e algumas fábricas fecharam, o que impactou os custos de transporte e a oferta de produtos.

Com a saída do confinamento, as famílias voltaram a consumir, o que provocou um aumento da procura que não foi acompanhado pelo aumento da oferta. E os preços dispararam (não, não foi o conflito na Ucrânia que aumentou os preços, contrariamente ao que é dito).

A previsão da Euribor para os próximos tempos

Como é sabido, depois de um pico muito grande nas taxas Euribor, estamos já no numa altura em que se espera que o BCE vá cortar as suas taxas de juro. E isto é esperado porque aparentemente conseguiu controlar a inflação, que tendo atingido picos em alguns países acima de 10%, está já bastante próxima de 2%, o objetivo do BCE.

Esperando-se várias descidas de taxas de juro ainda este ano, podemos esperar que as taxas EURIBOR desçam do patamar dos 3% ainda este ano. Veja-se o que nos dizem os mercados ao dia 7 de Agosto:

Taxa Euribor a 6 meses em Agosto:

Como podemos perceber do gráfico, estima-se que a taxa EURIBOR vá cair abaixo de 3% algures entre Novembro e Dezembro deste ano, atingindo um mínimo próximo de 2.25% no início de 2026, altura em que começará a subir paulatinamente nos anos seguintes.

Quando vão baixar os juros das casas?

A taxa EURIBOR é uma referência para os empréstimos da banca aos particulares. Por norma, o juro cobrado aos bancos consiste:

EURIBOR + SPREAD

Para responder à questão, terá de perceber qual o indexante (Euribor) que contratou. Se for a 12 meses, a prestação é recalculada 1 vez por ano. Se for a 6 meses é calculada 2 vezes por ano. A boa notícia é que em qualquer dos casos, nos próximos meses irá começar a sentir alívios na prestação, num movimento que se repetirá nas revisões seguintes.

E se tiver crédito habitação com taxa mista?

Nos últimos anos, os bancos têm comercializado soluções a taxas mistas. Uma taxa mista é uma taxa que é fixa durante um período, geralmente 2 a 5 anos, passando depois a taxa variável com a fórmula acima apresentada.

Se tiver contratado um crédito habitação a taxa mista, terá de esperar pelo fim da taxa mista para sentir um alívio na prestação. Como algumas taxas mistas foram contratadas à 12-18 meses, o prazo para revisão pode estar próximo. Mas nesse caso, poderá fazer sentido voltar a contratar nova taxa mista.

Como posso poupar se contratei a taxa mista?

Se contratou um crédito habitação a taxa mista e se o prazo de revisão ainda não chegou, a forma de reduzir a sua prestação pode passar pela transferência do seguro de vida associado ao crédito, enquanto espera para transferir o seu crédito habitação. É provável que tenha contratado o seguro junto do banco, um seguro que lhe pode cobrar mais do dobro do que soluções alternativas.